Você sabe como o Mito da Caverna e o seu negócio estão relacionados nesse cenário de pandemia?
- Vanessa Moço
- 19 de mai. de 2021
- 6 min de leitura

Antes, vamos relembrar sobre o que se trata o Mito da Caverna. Escrita por Platão em sua obra “A República”, a história é uma metáfora que sintetiza o dualismo platônico. Desde a infância, um grupo de homens se encontrava aprisionado em uma caverna. Sem poder se mover, a única coisa que conseguiam enxergar era uma pequena parede, onde uma fogueira permanecia acesa. Através das sombras formadas pela fogueira, os prisioneiros entendiam que existia algo lá fora. Em determinado dia, um desses homens consegue se libertar das correntes que o mantinham preso e, com muita dificuldade, ele procura pela saída da caverna. Contudo, ao sair de lá, seus olhos foram agredidos, uma vez que nunca tinha tido contato com a luz. Ele pensa em voltar para a caverna, pois estava acostumado com a prisão, portanto, era mais confortável. Aos poucos, ele acaba gostando das novidades e descobertas que fez fora da caverna e quer voltar para compartilhar as informações com os outros prisioneiros. No entanto, os homens que estavam na caverna não acreditaram nas histórias e experiências contadas pelo o ex-prisioneiro.
Quem é quem na metáfora?
Prisioneiros: O povo. Todos nós, sempre que nos contentamos ou nos acomodamos a um cenário, sem questionamentos racionais e leitura rasa dos cenários.
Caverna: Nosso corpo, mente, contexto histórico, social e de privilégio. O que nos mantém em um ambiente “seguro” ou com falsa sensação de segurança. O desejo da alegoria é que encontremos onde está essa caverna e como podemos trazer luz e novas percepções.
Sombras: São os frutos de nosso conhecimento costumeiro, que nos enganam, mostrando-se de maneira diferente do que realmente são.
Saída da caverna: Movimento em direção ao conhecimento racional e verdadeiro. Abandono do conhecimento empírico e busca da sabedoria por meio do entendimento de conceitos racionais. Na alegoria, a luz do sol tem esse poder de clarear, abrir os horizontes e perspectiva do público que antes era míope e limitado.
Mas o que isso tem a ver com o meu negócio?
Hoje, para sobreviver ao Covid-19, precisamos tentar convencer as pessoas para que fiquem em suas “cavernas”, sempre que possível. Parece até paradoxo, não é mesmo? Contudo, o que adoramos nesse contraponto é que devemos ficar fisicamente em nossas casas, mas esse recolhimento não pode nos tornar desconectados e apáticos ao mundo lá fora. Isso sim irá garantir a nossa sobrevivência e de nossos negócios.

É certo que a alegoria da caverna de Platão é um mito para trabalhar a nossa subjetividade e trazer luz à nossa visão de mundo, mas não resistimos à tentação de conectar estas duas pontas (plano físico e das ideias) na figura da caverna ao momento atual. Desejamos que estar fisicamente na caverna - em casa - não nos torne isentos com o que acontece lá fora e o impacto que iremos causar com nossas ações, inovações e mudanças que o momento exige. Temos constantemente nos questionado para que não fiquemos à sombra, estimulando diálogo e expansão para as marcas e, sobretudo, para as pessoas.
Se observarmos a velocidade em que ganham mercado os cursos de mindfullness, autoconhecimento e bem-estar, percebemos a importância desta autorreflexão enquanto sociedade. O quanto precisamos nos conectar conosco, mas com o entorno também. O fato é: cada um tem cuidado da sua “caverna” com a figura de linguagem que melhor lhe cabe.
No Mito da Caverna, o personagem tem a oportunidade de sair e ver o mundo lá fora. Sob a luz, ele vê a vida com novos olhos. As pessoas, a natureza, ou seja, tudo é transformado pela nova perspectiva. Esse processo não é fácil! Essa transição para sair da caverna agride os olhos. É confusa.
Sair do que tínhamos como zona de conforto antes da pandemia está doendo e provoca muitas transformações. Porém, dá luz a elementos que antes talvez estivessem às sombras. E sabemos que o novo assusta, ainda mais em momentos que nos sentimos tão frágeis.
O Covid-19 tem virado a sociedade de pernas para o ar, onde cada um está precisando reavaliar seu papel econômico, social e político. Com isso, a pergunta que mais estamos fazendo aos nossos clientes é se o que temos em pauta como conteúdo e escopo de trabalho é coerente com a necessidade do momento e a perpetuidade do seu projeto. A pandemia está trazendo à tona reflexões que estavam às sombras, acelerando necessidades e demandando transformações. E tudo isso de dentro de nossas cavernas, se possível.
Cultura organizacional
Como cada um pode lidar com essa crise da melhor forma possível, sendo responsável pelo seu entorno, trabalho, familiares e, ainda, com algum tipo de atuação social para minimizar os impactos desse cenário?

Para isso, reforçamos a importância de uma cultura organizacional onde os valores da empresa estejam conectados com o das pessoas e vice-versa. É uma via de mão dupla. Por isso, acreditamos que é dessa forma que as pessoas passam a ser propositivas e contribuir ainda mais num momento tão peculiar e exigente quanto à flexibilidade para novos modelos.
Muito se fala sobre manter-se mentalmente saudável e reverberar coisas positivas nesse período. No entanto, construir sentido e criar um novo futuro exige ação, teste, erro e outra tentativa. E como podemos dar conta de tantas mudanças, projetos e incertezas mantendo o propósito e a sanidade?
Pensando em como os filósofos que reverenciamos nessa jornada enxergariam o atual momento, resumimos em cinco principais interpretações aplicadas do Mito da Caverna de Platão. A nossa especialista Vanessa Moço traz insights, aplicando-os ao contexto pessoal e de pequenas, médias e grandes empresas. São eles:
1. Caverna como aprendizado ao home office:
O home office, que antes era uma alternativa de trabalho, tornou-se necessário, gerando a síndrome de burnout em diversos profissionais. Essa síndrome é resultado de uma combinação de problemas, como rotina de trabalho árdua, falta de autonomia ou flexibilidade, processos onerosos e, ainda, a angústia de não conseguir ter a mínima noção de como o futuro será.
2. Caverna como crítica à tabus:
Profissionais mulheres entrando em colapso, por acumular rotinas familiares, atividades profissionais e domésticas. Há muito o que aprender sobre organização e divisões de responsabilidades nestes ambientes.
3. Caverna como sociedade e estrutura de privilégios:
Reflexões sobre o privilégio de exercer suas atividades dentro de casa e ter a possibilidade de apoiar uma iniciativa social. Criação de um olhar mais empático com aqueles que não podem se resguardar em seus lares.
4. Caverna como desorganização política e econômica:
Em sua criação, a alegoria discutia papéis e responsabilidades de governantes, direitos e democracia. Hoje, lidamos com manchetes sobre a liderança política do país e uma crise ética com várias ramificações.
5. Um novo mito nasce: A solução é ser digital?
Cuidado! O poder da digitalização é efetivo e necessário, mas avalie o seu contexto. Traga esse tema para a sua empresa – estudando e experimentando –, mas sem atropelar as etapas.
Quais são os alicerces da sua marca?
Se você teve dificuldade para responder essa pergunta, talvez seja a oportunidade de voltar e redefinir os valores e propósitos do seu negócio.

Além dos valores serem norteadores do posicionamento, eles precisam se conectar ao cenário vigente. Por exemplo, se você trabalha com beleza ou moda, com certeza está sentindo mudanças nos hábitos de consumo de seus clientes. Talvez, seja necessário uma readequação no posicionamento, que se comunique de forma respeitosa e solidária ao momento. Carregue mais em conceitos de afeto, autocuidado, diversidade e amor ao próximo.
Se o seu viés está na indústria de luxo, um bom caminho seria se associar com coerência a causas que seu público-alvo possa vir a se encantar e construir valor efetivo. Se alimente de conceitos como upcycling, responsabilidade social, iniciativas solidárias. Além disso, reveja sua cadeia de suprimentos, valorize o empreendedor local como oportunidade de ganho coletivo.

No momento, chama mais atenção aquilo que a marca faz do que o discurso. Questionamento sobre segurança, responsabilidade e impacto estão sendo colocados à tona. Portanto, traga luz, abra a perspectiva, converse com a sua rede e busque referências conectadas ao ideal de marca que você deseja entregar para a sociedade para se inspirar.
Foram muitas reflexões sobre o Mito da Caverna e o seu negócio, não é mesmo? Experimente na sua empresa e, caso tenha dúvidas ou quiser ajuda, fale com a gente!
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